DISTÚRBIOS DO SONO E OBESIDADE

DISTÚRBIOS DO SONO E OBESIDADE

INTERVENÇÕES PARA O CONTROLE DO PESO PODEM MELHORAR O SONO E A QUALIDADE DE VIDA









A obesidade constitui um dos maiores problemas de saúde em todo o mundo e sua prevalência continua a aumentar. A estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) para 2015 é que o número de adultos com sobrepeso alcançará 2,3 bilhões e mais de 700 milhões estarão obesos. Estudos recentes vêm expandindo a compreensão da relação entre o excesso de peso, o desenvolvimento de distúrbios cardiometabólicos e sua influência no sono, com impacto negativo sobre a qualidade de vida.

Sonolência excessiva durante o dia e fadiga são as principais causas de procura de tratamento de doenças do sono e encontram-se associadas com o índice de massa corpórea (IMC)6. É particularmente forte a associação entre obesidade e apneia obstrutiva do sono (AOS), sendo que 60 a 90% dos indivíduos com AOS são obesos3. A AOS é caracterizada por colapsos frequentes da região faríngea durante o sono, resultando em diminuição do fluxo aéreo e desordens intermitentes dos gases sanguíneos (hipoxemia e hipercapnia) que podem levar a uma ativação do sistema simpático.

As queixas mais frequentes na AOS incluem a presença de ronco, sufocamento noturno, sonolência diurna e cefaleia matinal8. Contudo, o problema mais grave de saúde em pacientes com AOS está relacionado ao sistema cardiovascular. Evidências provenientes de estudos epidemiológicos indicam a existência de associação independente com hipertensão, doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca congestiva e acidente vascular cerebral.

A obesidade contribui para a patogênese da AOS de diferentes formas. A primeira delas é a alteração anatômica da faringe, causada pela deposição de gordura em sua parede, que leva a mudanças na via aérea superior e aumento da pressão tecidual extraluminal, promovendo o colapso da via aérea. Além disso, o excesso de gordura na cavidade abdominal está associado com a redução no volume pulmonar, especialmente da capacidade funcional residual. Isto leva à diminuição da tração longitudinal da faringe, rompendo mecanismos reflexos de controle respiratório.

Alterações dos níveis de hormônios e de citocinas, comuns na obesidade e síndrome metabólica, também desempenham um papel relevante. Vgontzas et al. (2005)5estudaram o perfil de citocinas em pacientes com apneia do sono e verificaram aumento nas concentrações plasmáticas de interleucina-6 (IL-6) e do fator de necrose tumoral-α (TNF-α), condizentes com um estado de inflamação subclínica. Outro achado na AOS é a hiperleptinemia, relacionada ao acúmulo de gordura visceral. De fato, o acúmulo deste tipo de tecido adiposo parece ser o principal determinante para o desenvolvimento de distúrbios do sono em pacientes obesos, até mais importante do que a gordura na região do pescoço.

A apneia do sono, por sua vez, pode levar à piora do status de adiposidade abdominal e da síndrome metabólica ao provocar estímulos de estresse e causar elevação noturna dos níveis de hormônios como o cortisol, que promove resistência à insulina, anormalidades metabólicas e pode contribuir para o desenvolvimento de complicações cardiometabólicas.

Vistos em conjunto, os resultados das pesquisas destacam a importância do diagnóstico e tratamento dos distúrbios do sono em pessoas obesas, assim como de intervenções baseadas na mudança de estilo de vida para o controle do peso para possibilitar a sua prevenção, com potencial de reduzir a morbidade e mortalidade por doenças cardiovasculares.

Referências:
1. Lam JC, Lam B, Lam CL, et al. Obstructive sleep apnea and the metabolic syndrome in community-based Chinese adults in Hong Kong. Respir Med 2006; 100(6): 980-987.
2. McNicholas WT, Bonsignore MR. Sleep apnoea as an independent risk factor for cardiovascular disease: current evidence, basic mechanisms and research priorities. Eur Respir J 2007; 29:156–78.
3. Ryan S, Crinion SJ, McNicholas WT. Obesity and sleep-disordered breathing--when two 'bad guys' meet. QJM 2014 [Epub ahead of print].
4. Schäfer H, Pauleit D, Sudhop T, et al. Body fat distribution, serum leptin, and cardiovascular risk factors in men with obstructive sleep apnea. Chest 2002; 122(3): 829-839.
5. Vgontzas AN, Bixler EO, Chrousos GP. Sleep apnea is a manifestation of the metabolic syndrome. Sleep Med Rev 2005; 9(3): 211-224.
6. Vgontzas AN, Bixler EO, Chrousos GP. Obesity-related sleepiness and fatigue: the role of the stress system and cytokines. Ann N Y Acad Sci 2006; 1083: 329-344.
7. World Health Organization. Preventing Chronic Diseases: A Vital Investment. Geneva:
8. World Health Organization; 2005.
9. Zancanella E, Haddad FM, Oliveira LAMP, et al. Apneia Obstrutiva do Sono e Ronco Primário: Diagnóstico. Projeto Diretrizes. Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina; 2012.

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